A escultura “Faceira”, em gesso, foi realizada por Rodolfo Bernardelli em Roma, em 1880, e recebida pela Academia de Belas Artes do Rio de Janeiro no ano seguinte. Apenas em 1921 ela foi passada para o bronze.
A obra é descrita no parecer da Seção de Escultura, apresentado em sessão da Congregação da Academia de 1882, assinado por Chaves Pinheiro e João Maximiano Mafra:
“Esta estátua de grandeza natural é uma belíssima figura de mulher lúbrica e provocante da raça americana. O movimento é gracioso, as proporções ficaram bem observadas, o modelado executado com saber. Pertencendo pelo assunto esta estátua a Escultura de gêneros e tolerável a Escola realista em que tem continuado o pensionista, entretanto o talento peregrino que a concebeu e executou com tanta galhardia se tivesse concentrado na Escola idealista, poderia bem produzido um primor d`arte.”
A “Faceira” é a obra mais elogiada pelos professores nesse parecer. A nosso ver, sua boa aceitação se deve ao fato de ser considerada como uma escultura de gênero, a qual são permitidas maiores inovações. A Faceira é a representação de uma índia, com uma forte carga de sensualidade e muito “inclinada a um exotismo amaneirado”, como aponta Luciano Migliaccio.
A proposta de Bernardelli, para este historiador, assemelhava-se à de Rodolfo Amoedo na representação da Marabá, inspirada no poema de Gonçalves Dias. Para Migliaccio o começo da carreira de Amoedo foi marcado pela:
“tradução em um registro realista de ícones do imaginário oficial, bem como pela ruptura, levada quase à paródia, dos limites convencionais dos gêneros. O alvo do pintor foi a poesia indianista de Gonçalves de Magalhães e de Gonçalves Dias, e seu paralelo figurativo criado por Meirelles.”
O crítico Gonzaga Duque, em texto de 1888, ressalta o fato de que a figura não apresenta características étnicas. Além disso, para ele, os seus cabelos estão presos em penteados caprichosos demais para a representação de uma índia, os pés deveriam ser espalmados pelas caminhadas contínuas e pelo exercício de subir em árvores, as mãos deveriam ser descuidadas, e os músculos rijos pelas atividades desenvolvidas, o que, no entanto, não acontece.
Gonzaga Duque prossegue em seu comentário sobre a escultura:
“ameaçou desviar-se da arte, caindo na caricatura, ao gosto de Grévin. A `Faceira`, estátua em gesso exposta em 1880, nasceu dessa fase, veio desse desviamento. (…) Vestiu a sua figura com adornos selvagens; dependurou-lhe às orelhas rodelas de pão, atou-lhe