Quase duas décadas depois da publicação de Iracema (1865), romance de José de Alencar (1829-1877), a tela de José Maria de Medeiros foi apresentada na Exposição Geral de Belas Artes do Rio de Janeiro, em 1884.
O catálogo da exposição assim a descreve:
“Inquieta Iracema pela ausência do esposo, sai em busca dele e chega à beira do lago, já quando as doces sombras da tarde vestiam os campos. Encontrando ali fincada, na areia da praia, a flecha do guerreiro trespassando um guaiamum [caranguejo], e de que pende um ramo de maracujá, se enchem-lhe os olhos de lágrimas, interpretando as ordens que aquele símbolo lhe revela: como o guaiamum, deve ela andar para trás, e como o maracujá, que guarda a flor até morrer, conservar a lembrança do esposo. Sem volver o corpo nem desviar os olhos da simbólica flecha, a filha dos tabajaras retrai lentamente os passos”.
Iracema é representada no momento de abandono, marco significativo da frustração da mulher que pôs o mundo de lado e se dedicou integralmente a um homem. Ela se junta a Ariadne, Ofélia, Moema e a tantas outras figuras femininas pelas quais o século XIX se fascinou, todas abandonadas pelos homens a quem se doaram.
Embora seja precursora na representação da personagem, a pintura de Medeiros não satisfez a crítica. Na Revista Illustrada, a paisagem foi elogiada, mas Angelo Agostini ironizou a pose da indígena:
“Iracema, vendo uma flecha fincada na areia, procura imitar-lhe a posição vertical. Porém, à vista da flor do maracujá e da ginástica inesperada de um caranguejo trepado na flecha, a índia, admirada, recua pé atrás pé, para não perturbar o crustáceo nos seus exercícios acrobáticos”.
Para Guanabarino, o maior problema estava igualmente na figura humana, “completamente deslocada do seu centro de gravidade”, cujo “movimento lento de recuar” se contradizia “com a perna direita fora da perpendicular, devendo atuar o peso do corpo e forçosamente sobre o pé esquerdo que, no entanto, não se apoia no chão”.
Além disso, ele observa a “ausência de expressão fisionômica” de Iracema, em desacordo com o sentimento que se supõe decorra de tal experiência. Guanabarino observou ainda que a paisagem contraria a “verdade local”, apresentando uma “vegetação robusta, mas não característica das regiões do Ceará, e ao fundo uma ponta de rochas, adiantando-se pelo mar, quando naquela província, segundo cremos, esse mineral é importado”.
Também para Gonzaga Duque o quadro era “uma composição em que o acessório sacrificava a figura e