Localização inventarial: JAM.1995.39
O tema da obra insere-se em uma antiga tradição de representação de músicos que conhece grande popularidade também na pintura dos séculos XIX e XX.
Exposto no Salon de 1842, a obra de pequenas dimensões, com sua cativante técnica e sensibilidade miniaturística, foi desde sempre apreciada por sua capacidade de emular a tradição da pintura holandesa de cabinet d`amateur dos séculos XVII e XVIII.
A placidez e o luxo do ambiente recriado em seus mínimos detalhes (observe-se, por exemplo, a franja da cadeira, pintada fio por fio), a elegância do jovem músico impecavelmente vestido, a penumbra dourada em que banha o todo, são qualidade muito apreciados por Théophile Gautier e em geral pela crítica coeva, conforme destaca Hungerford, em sua monografia sobre o pintor.
Mas a pintura impressiona sobretudo pela finura e complexidade com que articula as linhas de força e as zonas de luz. As diagonais do jovem músico, da partitura, do instrumento e da grande figura pintada atrás dele, contrapõe-se sabiamente aos ângulos retos da cadeira e das duas telas que se superpõem na parede do fundo. A primeira delas, de dimensões monumentais e de cunho rubensiano, mostra três ou quatro jovens mulheres reclinadas sobre uma fonte, sugerindo talvez uma cena de Moisés salvo das águas, enquanto a segunda deixa entrever uma natureza morta rústica. A alternância de zonas escuras e claras que se sucedem do canto superior esquerdo ao canto inferior direito é outra marca do virtuosismo de Meissonier e contribui para que a primorosa clareza da execução contraponha-se ao caráter confuso das imagens e dos “níveis de realidade” que se superpõem e se interferem
Luiz Marques
02/05/2010
Bibliografia:
1999 – C.C. Hungerford, Ernest Meissonier. Master in his Genre. Cambridge University Press, p. 35-37