A gravura foi concebida como ilustração do livro “Brasil Pitoresco”, de Charles Ribeyrolles e Victor Frond, publicado entre 1859 e 1861. Os autores percorreram o interior fluminense em 1858, documentando o trabalho dos afrodescendentes nas grandes fazendas de café.
Nessa é apresentado um grupo de escravas que trabalham diante de uma espécie de galpão, e tecem rendas de bilro em almofadas de cavaletes. Como nota Lygia Segala, devemos notar que as mulheres que exerciam atividades ligadas às residências trajavam roupas mais compostas e adornadas do que aquelas que trabalhavam na roça.
Destaca-se nessa imagem rigor geométrico procurado pelo fotógrafo, que reforça a presença das retratadas. A geometria que estrutura a imagem está presente nas linhas verticais da porta no plano de fundo, e no jogo de retângulos constituídos pelas pranchas nas quais são feitas as rendas.
Uma escrava mais velha parecer ensinar o trabalho, que exige habilidade manual. Para a autora, a idéia da especialidade é destacada no texto de Ribeyrolles e reforçada por esta imagem:
“Ao mostrar o escravo como mestre e não como um mero executor de um saber mandado, a prancha abre um espaço de convencimento para as inúmeras afirmativas do texto sobre o necessário investimento na civilização dos africanos, contraponto do ´trabalho livre e justo´”.
Maria Antonia Couto da Silva
12/03/2011
Bibliografia:
1980 – C. Ribeyrolles. Brasil Pitoresco. [1859]. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: EDUSP.
1998 – L. Segala. Ensaio das luzes sobre um Brasil Pitoresco: o projeto fotográfico de Victor Frond. Tese (Doutorado em Antropologia Social) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, p. 263.
2011 – M. A. Couto da Silva. Um monumento ao Brasil: considerações acerca da recepção do livro Brasil Pitoresco, de Victor Frond e Charles Ribeyrolles (1859-1861). Tese (Doutorado em História da Arte) – UNICAMP, Campinas, p. 233.