O tema da escultura foi retirado do Canto XXXIII do “Inferno” da “Divina Comédia”, de Dante Alighieri.
Refere-se ao encontro no Inferno, entre Dante, levado por Virgílio, e Ugolino della Gherardesca, que lhe conta a punição que havia sofrido.
Nobre de importante família, traído pelo partido dos Ghibelinos, que favoreciam o imperador na luta contra os Guelfos, aliados ao Papa, Ugolino foi aprisionado em uma torre na cidade de Pisa, com seus filhos e netos. Seu rival, o arcebispo Ruggieri degli Ubaldini, condenou-os a morrer de fome no cárcere. De acordo com a lenda, ele teria morrido após comer a carne de seus próprios descendentes já mortos. O momento escolhido escolhido pelo escultor é derivado da narrativa do próprio Ugolino:
“Quando a luz inda escassa se apresenta
No doloroso carcer, meu semblante
Nos quatro rostos seus se representa.
Mordi-me as mãos de angústia delirante.
Eles, cuidando ser a fome o efeito,
De súbito e com gesto suplicante,
Disseram: “Menos mal nos será feito
Nutrindo-te de nós, pai; nos vestiste
Desta carne: ora sirva em teu proveito”.
(Tradução José Pedro Xavier Pinheiro)
A obra, inspirada formalmente no grupo do “Laocoonte” e na estátua de Lorenzo de´ Medici, duque de Urbino, de Michelangelo, foi projetada inicialmente como um baixo-relevo e, por fim, concluída como uma estátua. Para Anne Wagner, essa mudança excluiu a possibilidade de situar as figuras em um cenário indicativo da fonte literária e de proporcionar meios pictóricos para a narrativa.
O artista procurou indicar a prisão de Ugolino e de seus descendentes, colocando na base do grupo escultórico uma gigantesca argola e corrente.
A postura e os gestos dos personagens expressam o conflito e a dramaticidade que caracterizam o texto de Dante. Cada um dos filhos possui uma pose e expressão diferenciada, variados graus de vitalidade e um apurado estudo anatômico.
Segundo Wagner, a preocupação com representar corretamente a anatomia dos corpos, coerente com o senso acadêmico, foi, entretanto, exacerbada pelo artista, que tratou o corpo humano como um compêndio de atitudes, sugestões e metáforas.
Maria do Carmo Couto da Silva
04/03/2011
Bibliografia:
1986 – A.M. Wagner, Jean-Baptiste Carpeaux: sculptor of the Second Empire. New Haven: Yale University Press, 1986.