Mársias é um velho sátiro, um sileno, inventor da flauta de dois tubos, o aulos, instrumento associado à Frígia (região centro-ocidental da Anatólia, atual Turquia) e ao assim chamado modo frígio. Ausente de Homero e de Hesíodo, seu mito entra nas fontes escritas conservadas apenas em meados do século V a.C., com Heródoto (História, VII, 26), que, narrando a marcha de Xérxes através da Ásia Menor, refere-se à sua passagem pela Frígia:
“O exército superou o rio Halis, entrou na Frígia e atravessou o país para atingir Celena [então, capital do reino frígio], onde se encontram as nascentes do rio Meandros e do não menos importante Catarractos (…) É ali que se vê a pele do Sileno Mársias, pendurada, diz a lenda da Frígia, por Apolo quando ele esfolou vivo seu inimigo”.
Em Atenas, o mito era então já bem conhecido na versão segundo a qual Atena, tendo inventado o aulos, rejeitou-o e amaldiçoou-o, quando viu seu rosto desfigurado em um espelho d´água no momento em que soprava o instrumento. Mársias então tomou-o para si e, tendo se tornado exímio flautista, cometeu a hybris de desafiar Apolo Citaredo para um torneio que decidiria quem seria o melhor músico. Torneio fatídico para o sátiro, pois Apolo, vencedor, prende-o em uma árvore e esfola-o vivo. Depois, aparentemente arrependido de sua cólera, transforma-o no rio mencionado por Heródoto.
O tema foi incessantemente representado na arte helenística e não raro também em relevos de sarcófagos. Neste, veem-se ao centro os dois contendores, assistidos por uma audiência atenta e, à direita, Mársias já amarrado à árvore.
Luiz Marques
13/06/2011
Bibliografia:
1996 – E. Wyss, The Myth of Apollo and Marsyas in the Art of the Italian Renaissance. An Inquiry into the Meaning of Images, Newark, Londres.
2008 – P. Zanker, B. C. Ewald, Vivere con i miti. L´iconografia dei sarcofagi romani. Turim: Bollati Boringhieri, p. 238

