Esta que é a primeira prova artística importante de Alessandro Algardi (Bolonha, 1595-1654) em Roma, onde ele chega em 1625, oferece um caso exemplar das relações vigentes no século XVII com a estatuária antiga, pois antigo e provavelmente de mármore grego é o torso “restaurado” pelo jovem artista bolonhês. Sobre este torso, talvez de um Apolo, da coleção do Cardeal Ludovico Ludovisi (outrora na coleção do Cardeal Cesi), Algardi constrói com mármore de Carrara branco venado de cinza a figura de um Dadoforo (Portador de archote), com uma maçã do Jardim das Hespérides na mão esquerda, sugestiva da Noite, já que tais ilhas situavam-se no extremo ocidental do mundo antigo. Como propõe Montagu, “O Dadoforo Ludovisi poderia portanto representar uma alegoria do percurso do sol do oriente ao ocidente ou do surgir do sol, representado no momento da passagem da noite ao dia. Neste caso, o uso do mármore branco com evidentes venaturas cinzas, exibido sem rodeios pelo escultor nas partes de integração, adquiriria um sentido veladamente mimético, transformando a inicial dificuldade (o fragmento mutilado e o mármore venado) em um bem sucedido exemplo de escultura barroca, onde antigo, arte e natureza fundem-se em um novo delicado equilíbrio”.
Bibliografia:
1999 – J. Montagu, Algardi. L´altra faccia del barocco. Catálogo da exposição. Roma, De Luca, p. 96