Franchino Gaffurio (1451 – 1522), compositor, maestro di cappela da Catedral de Milão e o mais prolífico teórico da música de sua geração, é conhecido hoje sobretudo por seus três tratados: Theorica musice (1492), Pratica musicae (1496) e o De harmonia musicorum instrumentorum opus, Milão, 1518, ilustrado com a presente xilogravura.
Amigo de Josquin des Près, Gaffurio teria sido retratado por outro amigo, Leonardo da Vinci, no pequeno retrato da Pinacoteca Ambrosiana de Milão*. Mas a atribuição a Leonardo e a identificação do retratado permanecem hipotéticas.
A gravura mostra Franchino Gafurio dissertando sobre a Harmonia, definida como discordia concors (concórdia na discórdia), isto é, como combinação de consonâncias e dissonâncias que espelha a harmona mundi. Os números 3, 4 e 6 referem-se ao assim chamado epogdoon, a relação 9:8, sobre a qual se baseia o sistema harmônico descoberto por Pitágoras, baseado justamente nos números 3, 4 e 6 que definem os intervalos fundamentais da harmonia de quarta, quinta e oitava:
Diatesseron (intervalo de quarta)
Proporção 12:9 ou 4:3
Intervalo Do – Fa
Quarta perfeita
Diapente (intervalo de quinta)
Proporção 12:8 ou 3:2
Intervalo Do – Sol
Quinta Perfeita
Diapason (intervalo de oitava)
Proporção 12:6 ou 2:1
Oitava perfeita
Este sistema de proporções exprime-se na sagrada pirâmide do tetraktys, isto é, as quatro mônadas
1, 2, 3 e 4 = 10
capazes de exprimir as proporções harmônicas fundamentais:
1 : 2 oitava
1 : 2 : 3 oitava quinta
1 : 2 : 4 dupla oitava
Luiz Marques
16/07/2010