A obra representa o dia de reis (6 de janeiro) que rememora o encontro dos Três Reis Magos com o menino Jesus a quem levam oferendas.
No período colonial cubano os negros escravos, introduzidos na Ilha a partir de 1513, tinham o dia de folga. No intuito de celebrar a comemoração católica, agrupados em cabildos de nação, os negros e mulatos livres, saíam à rua tocando tambores, dançando e vestidos com as roupas típicas de suas diferentes etnias de procedência. Esta espécie de procissão tinha por objetivo arrecadar dinheiro na vizinhança para comemorar as festividades, honrando suas próprias deidades, numa atitude representativa do processo de transculturação da nação cubana.
Esta cena de rua captada por Landaluze (1828/1899) pintor e caricaturista basco radicado na Ilha em 1850, apresenta a comitiva negra dançando pelas ruas de Havana. O pintor incorpora diferentes personagens típicos da negritude cubana cujas vestimentas de variado colorido ajudam a identificar os personagens. A figura que se aproxima da janela vestida de levita, representa o caleceiro ou seja, aqueles escravos destinados a guiar as carruagens da burguesia havanesa.
Encontramos também as negras “libertas”, vestidas à imitação das damas brancas, o diabo ñañigo, vestido de tecido cru com um capuz na cabeça, que se associa à devoção de Babalú Aye sincretizado na tradição católica com São Lazaro, entre outras evocações a deidades africanas.
A obra pode ser interpretada como uma descrição dos tipos da sociedade cubana do século XIX, profundamente críticada pelo artista em defesa do colonialismo, empregando entre outros recursos sua visão do exotismo popular, ao qual dedica grande parte de sua produção publicada sob a denominação de “Tipos y Costumbres” (1881). A veracidade da cena apresentada por Landaluze tem sido defendida pelos histioriadores a partir da coincidência entre os elementos que formam parte da composição e aqueles mostrados pelo gravurista e fotógrafo francês Federico Mialhe na sua litografia de nome homônimo realizada na década de 40 do século XIX para seu livro “Album pintoresco de la Isla de Cuba”.
(Continua)
Monica Villares Ferrer, Master em História da Arte.
28/04/2010