Sobre as fontes textuais antigas acerca de Marcos Pórcio Catão (95-46 a.C.), morto suicida em Útica para se subtrair ao império de César, ver os ocmentários a seu retrato no Museu de Rabat*, ao afresco de Beccafumi* em Siena, de 1519-1520 e às diversas representações do tema no Seiscentos (Anônimo napolitano*, Poussin*, Guercino*, Le Brun*, Langetti*, Carneo*, Stomer*, etc.)
A cena representa Catão prestes a arrancar as ataduras do ferimento que ele se infligira ao transpassar o ventre com sua espada. À direita a bainha vazia da espada instrui sobre o ato já cometido. Ao fundo à direita, a luz da lamparina deixa entrever seus manuscritos e, talvez, seus mapas de guerra. Tudo é decoro nesta representação sem ação, que toma o suicídio como pretexto para a exibição de um soberbo estudo acadêmico de nu. A obra terá talvez desempenhado algum papel na decisão de eleger este tema para o Salon de 1797.
Guillaume Guillon Lethière é um pintor natural de Guadalupe, filho de uma escrava liberta e de um Procurador do Rei na ilha. Sua carreira na França, para onde ele ruma em 1774, inicia-se em Rouen, no ateliê de Jean-Baptiste Decamps. Em Paris, em 1777, ele trabalha no ateliê de Gabriel-François Doyen. De 1784 é a conquista do Second Prix de Rome, com a Cananaica aos pés de Jesus do Museu de Angers. De Roma, onde ele permanece de 1786 a 1791, escolhe enviar como prova do fruto de seus estudos (praxe da Academia) uma cópia de um pintor então pouco apreciado: a Deposição do Cristo de Ribera, conservado no Museo di San Martino em Nápoles. A escolha prenunciava uma longa frequentação da pintura espanhola, pois quando, em 1801, Lucien Bonaparte for nomeado Embaixador na Espanha, ele o levará a Madrid com a missão de escolher uma grande coleção de pintura. De retorno a Paris, seu ateliê é o mais importante, ao lado do de Jacques-Louis David, até que um duelo com um militar obriga-o a deixar Paris. Em 1807, revemos Lethière em Roma, graças à proteção de Lucien Bonaparte, como diretor da Académie de France, posição que ele ocupará por quase dez anos. Data destes anos, precisamente de 1811, sua obra mais ambiciosa e também mais conhecida, o monumental Bruto condenando seus filhos à morte* (537 x 380 cm) hoje no Louvre.
Luiz Marques
13/02/2010
Bibliografia:
1991 – G-F. Laballe, G. Capy, Guillaume Guillon Lethière. Peintre d´histoire 1760-1832. Catálogo da exposição, cat. n. 17.