Recentemente descoberto no curso de escavações realizadas na
área do Vaticano, em Roma, outrora ocupada por uma necrópole
situada às margens da via Trionfale (cujo traçado coincide
aproximadamente com a atual via Leone IV), este sarcófago é
o único de seu gênero a ter conservado seu tampo.
De tipo “strigilato” (com relevos sinuosos), ele tem nas
extremidades as figuras de uma orante e de um filósofo. O
tampo exibe dois pares de golfinhos em posição simétrica.
A orante veste-se com uma túnica, a cabeça velada, e ergue-
se entre duas árvores, numa das quais posa um pássaro. As
árvores e o pássaro aludem a uma vida post-mortem de bem-
aventurança.
A figura da direita é um filósofo, um literato ou um orador
com um manuscrito na mão esquerda, envolto em um manto que
deixa o torso semi-desnudado. Sua presença é frequente em
sarcófagos cristãos e não-cristãos.
O sarcófago porta uma inscrição:
D(is) M(anibus) / P(ubli) Caesili Victorini / eq(ues)
R(omanus) / qui vixit ann(is) XVII / m(ensibus) V d(iebus)
XXVI
“Aos Deuses Manes de Públio Cesílio Vitorino, cavaleiro
romano, que viveu 17 anos, 5 meses e 27 dias”
A imagem da orante com os braços abertos, muito usada na
iconografia funerária cristã, não implica necessariamente
que se trate de um sarcófago cristão, pois a presença de tal
figura ocorre já no repertório funerário pagão.
Inversamente, o emprego da fórmula “Dis Manibus” não obriga
a se considerar o defunto como um não-cristão, pois no
século III essa tradição formular, dotada inclusive de valor
jurídico, é encontrada também em sepulturas cristãs.
Luiz Marques
20/09/2011
Bibliografia
2006 – P. Liverani, in A. Paolucci, Petros eni / Pietro è
qui. Catálogo da exposição, Vaticano, Braccio di Carlo
Magno,
Edindustria, p. 167