Num bar vazio, um velho e pobre homem com a cabeça apoiada
na mão e no encosto da cadeira – fórmula gestual (ou
Pathosformel) da melancolia -, imerso em si, mostra
um semblante transfigurado por pensamentos sombrios.
Nos anos 1880, os temas da pobreza, da doença, da angústia e
da depressão são, por experiência própria, característicos
do estado de espírito e da obra de Ferdinand Hodler (1853-
1918).
Mas tal estado de espírito não é apenas fruto de
experiências pessoais. Ele reflete uma situação histórica
mais geral. Basta lembrar que igualmente de 1889 é a “Morte
de Ivan Ilitch”, de Tolstoi, que inaugura o nihilismo na
narrativa moderna. Do mesmo ano é a crise de loucura de
Nietzsche, símbolo inaugural do silêncio da filosofia. De
1890 é o suicídio de Van Gogh, símbolo inaugural de uma
trágica incomunicabilidade entre arte e público.
Luiz Marques
29/10/2011
Bibliografia
1982 – S. L. Hirsch, Ferdinand Hodler, Londres: Thames and
Hudson, p. 72