Registro inventarial: Ma 353
Proveniente da coleção Borghese e adquirido para o Louvre em 1808, este sarcófago representa um episódio da guerra de Troia narrado no canto XXIV da Ilíada de Homero, um dos mais patéticos e decerto o único em que uma longa meditação sobre o destino e a morte sobrepõem-se ao ideário atinente à honra do guerreiro, o que o torna uma representação particularmente adequada à decoração de um sarcófago.
Da esquerda à direita, sucedem-se três cenas: o apelo a Aquiles por Príamo para que lhe devolva o cadáver do filho, a restituição do corpo de Heitor e o retorno a Troia com a figuração de Andrômaca e de Astianax, filho do casal.
Assim como ocorre em outros relevos de sarcófagos com figurações da morte de Meleagro, a representação do braço caído e sem vida de Heitor viria a constituir um motivo privilegiado ao longo da história da arte, uma “fórmula de pathos“, ou Pathosformel segundo a feliz expressão de Aby Warburg, fórmula celebrizada, por exemplo, pela Pietà de Michelangelo em S. Pedro, pela “Deposição do Cristo” de Caravaggio na Pinacoteca Vaticana e pela “Morte de Marat” de David.
Luiz Marques
04/06/2011