O mosaico encontra-se no tímpano sul do assim chamado Mausoléu de Gala Placídia, pequena construção em planta cruciforme, com função sepulcral, que outrora prolongava o nártex da igreja de Santa Croce.
Posto sobre o suposto sarcófago de Gala Placídia, morta e sepultada em Roma em 450, o mosaico representa, segundo a tradição, S. Lourenço. Sua lenda, transmitida sobretudo por S. Ambrósio e pelo Hymnus in honorem passionis Laurentii beatissimi martyris de Prudêncio, o faz um dos sete diáconos de Roma. Lourenço teria nascido em Aragón, na Espanha, e seu martírio teria ocorrido em Roma em 258, quatro dias após o do papa Sisto II, que o ordenara diácono, vítimas ambos da perseguição aos cristãos desencadeada pelo Imperador Valeriano (253-260).
Tal como Sisto II, Lourenço teria sido decapitado, e não queimado sobre uma grelha (convertida em atributo do santo), pois tal não era a forma romana adotada para a execução. A lenda poderia ter origem em um erro do copista que teria escrito assus no lugar de passus. Venerado em imagens desde o século V, sobre seu monumento sepulcral (martyrium) edificou-se sucessivamente a basílica de S. Lorenzo fuori le mura, nos arredores de Roma. A igreja de S. Lorenzo in Lucina, em Roma, ostentava a grelha de seu martírio.
A origem ibérica de Lourenço favoreceu seu culto na península o que explica porque, após a vitoria espanhola na Batalha de Saint Quentin na França, ocorrida em seu dia (10 de agosto de 1557), Felipe II o tenha convertido em santo nacional, dando seu nome ao Escorial, cuja planta tem, como se sabe, a forma de uma grelha.
O presente mosaico mostra, à direita da janela, a figura de S. Lourenço, cuja posição central na capela deve-se ao fato de ser ele o santo protetor da dinastia valentiniano-teodosiana.
Sobre um fundo em que se combinam três tonalidades de azul, um grande nimbo dourado envolve a cabeça afilada de um jovem com cabelo e barba preta, que, de pé, fixa os olhos no espectador. O santo caminha com uma cruz ao ombro e segura um livro aberto sobre uma almofada vermelha na mão esquerda.
Seu manto esvoaçante, animado por um vívido sistema de pregas delineadas por tésseras brancas, cinza-claro, preto e beje, reforça a sugestão de movimento indicado pela posição dos pés e das pernas. S. Lourenço festinat ad martyrium, isto é, apressa-se para o martírio, desejado com tal ardor pelos primeiros cristãos, que a Igreja teve de tomar medidas firmes para contê-lo.
À esquerda da composição