Esta obra do pintor e artista gráfico Raúl Martínez é representativa de sua produção ao longo da década de 1960, que, segundo o historiador de arte cubano, Gerardo Mosquera: “(…) em poucos anos percorreu um caminho que compreendia de Robert Motherwell a Andy Warhol, da abstração à iconografia pop via Jasper Johns e Robert Rauschenberg. Martínez acabou desenvolvendo um estilo pop muito pessoal, com o qual construiu uma iconografia grandiosa e positiva da Revolução baseada na vida cotidiana. Tal iconografia carece praticamente de qualquer natureza oficial ou didática e inspira-se na arte popular com certos toques grotescos (…) Seus quadros expressam tanto a utopia como a realidade daquela época.”
Observa-se nesta obra uma reelaboração do retrato de José Martí, figura emblemática da cultura cubana, tanto por sua liderança na segunda guerra de independência cubana, quanto por seu trabalho como escritor e intelectual, sendo Martí considerado o mais importante pensador do século XIX cubano.
Numa re-leitura de elementos do pop norte-americano, principalmente da obra de Andy Warhol, juntamente com elementos do cartaz soviético relativos a seus objetivos e a seus meios de exposição, Martínez faz da imagem do Apostolo cubano, um elemento central na suas obras.
O artista reflete a realidade na qual se encontra inserido a partir de uma nova maneira de conceber a pintura e do uso da fotografia. Formado no Art Institute of Design de Chicago, e pintor abstrato durante a década de 50, Raúl Martínez mudará completamente seu estilo a partir de 1963. Introduz então em suas obras cores cálidas puras, humaniza a figura histórica de Martí e converte-a em dos ícones de sua criação juntamente com os lideres da revolução cubana como Camilo Cienfuegos, Ernesto Guevara e Fidel Castro, numa espécie de “star system” político. Empregando uma linguagem acessível, cuja eloquência radica na simplicidade das formas e no uso consciente da pintura popular para desenvolver sua própria linguagem, Martínez será o primeiro a introduzir na plástica cubana a estética do pop norte-americano.
Além de pintor, é ele também designer, fotógrafo e escritor, sendo de sua autoria os mais famosos cartazes do cinema e do teatro cubanos.
Monica Villares Ferrer, Mestre em História da Arte.
16/05/2010.
Bibliografia
MOSQUERA, Gerardo. em SULLIVAN, Edward. Arte Latinoamericano del siglo XX. Madrid: Nerea. 1996. P. 94