Uma inscrição latina que se lê no canto superior direito do quadro reporta um passo de um idílio de Teócrito (315c.-250c. a.C.), que pode ser assim traduzido:
“Uma abelha picou o dedo de Cupido, ocupado em roubar mel no oco de uma árvore. É assim que o prazer breve e passageiro que buscamos vale-nos tristeza e dor”.
O poeta relata, em seguida, como Vênus, divertida com o fato, faz seu filho compreender que as penas de amor por ele infligidas aos humanos são muito mais dolorosas.
Segurando o galho de uma macieira, Vênus evoca de modo evidente a figura de Eva. Seu rebuscado chapéu de plumas e seu colar de ouro e pedras preciosas sugerem a figura de uma cortesã que se teria despido para posar como modelo da deusa do amor.
Ao longo de sua carreira, Lucas Cranach, o Velho (1472-1553) retornou inúmeras vezes ao tema de Vênus (38 obras conservadas no Catálogo de Friedländer e Rosenberg), certamente de grande predileção entre sua clientela aristocrática, e ao menos 11 vezes especificamente ao tema teocritiano de Vênus com Cupido roubando mel, de gosto suavemente moralizante.
Luiz Marques
07/12/2010
Bibliografia
1932 – M. J. Friedländer, J. Rosenberg, The Paintings of Lucas Cranach. Edição revista por J. Rosenberg, Londres, 1978, p. 118