“Registro inventarial: Joseph Pulitzer Bequest, 1963
(63.11.6)
O texto mais antigo conservado do mito da luta de Hércules
pelo trípode do oráculo de Delfos é o transmitido por
Pseudo-Apolodoro, Biblioteca (II,1,127-131), do início do
século III d.C. Ele tem por origem o certame de arqueiros
lançado por Euritos, rei da Ecália, arqueiro insuperável,
pois filho de Melaneu discípulo do próprio Apolo na arte do
manejo do arco. A maestria de Euritos é mencionada por
Ulisses na Odisseia (VIII, 172-176):
“”Com prístinos varões não me comparo,
Com Hércules e Eurito Ecaliense,
Que na sua arte aos numes se atreviam:
O grande Eurito foi de curta vida,
Ímpio desafiando o iroso Apolo.””
(tradução M. Odorico Mendes)
O vencedor de Euritos e de seus filhos em tal torneio teria
por prenda Iole, a filha de Euritos. Hércules, outrora
discípulo de Euritos, vence-os, mas os filhos de Euritos
recusam-se a entregar sua irmã ao vencedor, temerosos de se
tornarem vítimas de um dos acessos de loucura do herói.
Dentre eles, apenas Ifitos toma seu partido e vai ter com
ele, acusado que fora nesse ínterim de roubar o gado de
Euritos, para o inocentar, propondo reavê-lo juntos.
Hércules recebe-o cordialmente, mas em outro acesso de
loucura, mata-o, arremessando-o do alto das muralhas de
Tírintos, cidade micênica.
Para expiar seu crime e para se curar da enfermidade que em
seguida o acomete, Hércules vai a Delfos, mas a Pitonisa
nada lhe sabe dizer. Enfurecido, o herói começa a destruir o
templo e resolve se apoderar do trípode no fito de
estabelecer um outro oráculo. Sobrevém então Apolo em defesa
de seu templo e de seu trípode e uma luta terrível tem
início entre eles.
A cena em questão mostra o momento da disputa pelo trípode:
de um lado, Apolo, secundado por Ártemis; de outro, Hércules
protegido por Atena Representada como uma koré. O
próprio Zeus, segundo o Pseudo-Apolodoro, deve intervir com
um de seus raios para pôr fim à disputa, que terá por
consequência a venda de Hércules como escravo a Onfale.
A presente ânfora é assinada na base por Andokides, poteiro
ateniense, cujo pintor, chamado Pintor de Andokides, ativo
entre 530 e 510 a.C. é considerado o provável introdutor da
técnica das figuras vermelhas. Seu estilo é reconhecível em
aproximadamente 26 ânforas, hídrias e kílikes ou taças,
quase metade das quais apresentam ainda pinturas em figuras
negras, atribuível a outro pintor, chamado Pintor de
Lisípides, um discípulo de Exékias.
Esta ânfora do Metropolitan é considerada uma de suas
primeiras obras, nas quais as figuras, de uma lineraridade
tensa e extravasante de energia, acusam ainda uma estreita
relação com a frisa escultórica do Tesouro dos Sifnos (530-
525 a.C.), doado pela cidade de Sifno a Delfos e conservado
no Museu daquele santuário. O outro lado da ânfora
representa Diônisos entre um Sátiro dançante e uma Mênade,
tocando a krotala, uma espécie de castanhola.
Veja: http://www.mare.art.br/detalhe.asp?idobra=3624
Luiz Marques
23/01/2012
Bibliografia:
1946 – G. M. Richter, Attic Red-figured Vases. A Survey.
Yale University Press, Revised Edition, 1958, pp. 43-47.
1987 – J. R. Mertens, Greece and Rome. The Metropolitan
Museum of New York. New York, pp. 49-51.
1996 – B. Cohen, Andokides Painter. The Grove Dictionary of
Art, ad vocem.
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