“Após os Bassano, o tema da entrada na arca associa-se em
especial a Giovanni Benedetto Castiglione, chamado Il
Grechetto, figurando entre os que o pintor animalista tinha
em predileção.
Já Luigi Lanzi assinalava que entre suas obras de
istorie sacre… ripetutissime sono quelle del Genesi, la
Creazione degli animali e il loro ingresso nell´Arca….
É bem da generosidade de sua imaginação não pintar versões
idênticas do tema, divertindo-se em “”remontá-lo”” com os
mesmos motivos, segundo a veia humorística do momento.
Pode-se confrontar a presente obra com dezoito outras
versões:
1. uma versão autógrafa, em coleção privada, sem outra
indicação de localização, publicada por P. Pagano e M.C.
Galassi (1988);
2. uma versão muito próxima da anterior, também considerada
autógrafa e de medidas diminutas, 39,5 x 46 cm., nos Uffizi
de Florença, Inv. P389. Segundo A. Percy (1971), é obra de
primeira juventude, anterior à partida para Roma, em 1632.
3. uma gravura dele próprio, a partir do óleo anterior,
também considerada juvenil por A. Percy, dada a técnica
ainda insegura;
4. uma versão deste mesmo modelo (n. 2 e 3) em maiores
dimensões, mas em mau estado de conservação nos depósitos do
Palazzo Bianco em Gênova, Inv. PR 295;
5. uma versão bastante independente, com composição
invertida em relação às anteriores e com alusão às
composições bassanianas, no Museo dell´Accademia Ligustica
di Belle Arti, Inv. 412, 178 x 243 cm. E. Baccheschi
assinala a autografia da obra, datando-a dos anos entre 1632
e 1647;
6. uma tela de 135 x 171 cm. em Nantes, Musée des Beaux-
Arts, próxima de um desenho (n.7), de uma gravura (n.8) e da
versão do Museu de Marseille (n.9), pela presença da
carregadora de água. Ela faz pendant com um “”Sacrifício de
Noé””, no mesmo Museu, e é datável, segundo A. Percy e A.
Brejon de Lavergnée, do início dos anos 1650. Ainda que
invertido, o cavalo aqui representado, bem como a
carregadora e outros detalhes da cena, são os que mais se
aproximam da tela do Museu do Rio;
7. um desenho de composição menos complexa, apresentado à
Sotheby´s de Monaco, no dia 20 de Fevereiro de 1988;
8. uma gravura já exposta na Galeria Borner de Dusseldorf em
1983;
9. uma versão, provavelmente de escola, em Marselha, Musée
des Beaux-Arts, Inv. 53.1.5., 101 x 146 cm., datável, sempre
segundo A. Percy (1971), dos mesmos anos que a tela de
Nantes. A presença do anjo no alto da cena suscitou dúvidas
quanto ao real significado da representação;
10. uma admirável versão no Palazzo Reale de Gênova, 127 x
180 cm.
11. Uma versão particularmente interessante para o exemplar
do Museu carioca, pela presença do mesmo cavalo, em senso
invertido, já na coleção Costa, de Gênova, 89 x 126 cm;
12. um desenho, também com o cavalo (e o anjo, tal como a
versão de Marselha), no Louvre, Inv. 9444, já publicado por
A. Percy [1971:62]. Newcome-Schleier (C.O., fevereiro de
1990), não crê ser este desenho da autoria de Castiglione;
13. uma versão conservada no Kunsthistorisches Museum de
Viena, publicado por A. Percy (1971);
14. uma gravura na Bibliothèque Nationale de Paris, Bartsch,
1821, XXI, p.10, n.1;
15. uma versão autógrafa no Philadelphia Museum of Art, Cat.
1971, fig.35;
16. uma versão, em 1901, na Galeria V.A. Bruckmann, de
Munique, hoje na Dresden Gemäldegalerie, Inv. 659;
17. uma versão em Weston Park, Inglaterra;
18. uma versão já em Aachen, Suermundt-Museum, destruída na
Guerra.
É possível que a presente obra não seja autógrafa, embora
com participação significativa de seu ateliê. Sabe-se, por
exemplo, que o irmão de Grechetto, Salvatore, e seu filho,
Giovanni Francesco, asseguram a continuidade do ateliê após
1665, e que, como notou Newcome-Schleier, Ratti já
detectara, em 1780, versões deste mesmo tema di stile del
Castiglione. Partindo das versões seguramente
autógrafas, deverá ser possível propor uma atribuição mais
precisa à bela obra do Museu carioca.
Luiz Marques
14/11/2011
Bibliografia:
1971 – A. Percy, Giovanni Battista Castiglione.
Philadelphia.
1972 – L. Alfonso, “”Liguri illustri: Giovanni Benedetto
Castiglione, detto Il Grechetto””. La Berio, 12, pp. 40-45.
1979 – F. Borroni, “”Giovanni Benedetto Castiglione, detto il
Grechetto””. DBA, 22, ad vocem.
1981 – M. Newcome, “”Genoese Artists in the shadow of
Castiglione””. Paragone, 391, pp. 27-34.
1983 – E. Baccheschi, Il Museo dell´Accademia Ligustica di
Belle Arti. Gênova.
1984 – A. Bréjon de Lavergnée, Peintures Italiennes du Musée
des Beaux Arts de Marseille. Marseille.
1988 – P. Pagano, M.C. Galassi, La Pittura del ´600 a
Genova. Milão.
1996 – L. Marques (com a colab. de Z. Paternostro), A
Arte Italiana no Museu Nacional de Belas Artes. Corpus da
Arte Italiana em Coleções Brasileiras, Vol. 2. Rio de
Janeiro: Museu Nacional de Belas Artes, pp. 61-63.
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