No Asno de ouro, ou Metamorfoses (VI, 23),
Apuleio (125c.-180c.) narra como Zeus – atendendo a um
pedido de Cupido e malgrado a oposição de Vênus, contrária
às núpcias de seu filho com uma mortal – determina que
Mercúrio traga Psiquê ao Olimpo para que, divinizada, ela
possa se tornar uma esposa condigna de Cupido. Da união de
Cupido e Psiquê deveria nascer, segundo Apuleio, uma filha,
chamada Volúpia.
Concluindo uma narrativa de importância crucial na história
do erotismo, o triunfo de Psiquê ou sua ascensão ao Olimpo,
após superar sua última prova, qual seja trazer dos infernos
o vaso de Proserpina, é um tema recorrente na história da
pintura, da Antiguidade ao Renascimento e ao final do século
XIX, com Adolphe William Bouguereau (1825-1905), Edward
Burne-Jones (1833-1898), Max Klinger (1857-1920), entre
vários outros.
O tema dos amores de Eros e Psiqué comparece na pintura
florentina da segunda metade do século XV, sobretudo na
produção de diversos cassoni oriundos dos ateliês de
Jacopo del Sellaio e do Mestre dos Argonautas. Mas a precisa
cena da Assunção de Psiquê ao Olimpo, com suas evidentes
relações com os temas da Assunção da Virgem e da Madalena,
consagra-se apenas nos grandes ciclos decorativos da
primeira metade do século XVI, a começar pelo afresco de
Agostino Penni, segundo um desenho de Rafael, na
loggia da Villa Farnesina.
A presente obra atribuída a Lambert van Noort (1520-1571),
mas outrora a Battista Dossi, retoma a invenção rafaeliana,
mediada por uma gravura de Nicolas Béatrizet, invertendo-a e
tornando-a mais frontal. Além disso, introduz em sua pintura
uma paisagem com ruínas antigas sobre um fundo de remotas
escarpas azuladas, de gosto claramente flamengo.
Luiz Marques
25/11/2011
Bibliografia
2002 – S. Cavicchioli, Éros et Psyché. Paris, Flammarion
2002 – K. Herrmann Fiore, in J. Bentini, S. Guarino, Il
Museo senza confini. Dipinti ferraresi del Rinascimento
nelle raccolte romane. Ferrara, Federico Motta Ed., p. 128